domingo, 25 de setembro de 2011

Não me lembro mais

Não me recordo mais do tempo em que a vida tinha cores
O canto que antes era tão familiar está perdido
Meu coração não conhece sentimentos, não os reconhece mais
Tiraram-me meu amor, minha sensibilidade
Sou como aquele que perdeu os movimentos
Não consigo me mover, não consigo desejar, não consigo lembrar
O buraco em meu peito é visível, porém não me importo mais
Ele já vive aqui há tanto tempo que não me incomodo com a dor
Não irei pedir para que me devolvam a vontade de viver
Mesmo sem ela continuo aqui
Não consigo me mexer
Não irei me movimentar
Se é assim que deve ser.
Amém.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Dois

A carência inevitável se faz presente
Dois corpos quentes bailam a valsa da solidão
Alguém no final sairá ferido
O fogo ilumina muito por muito pouco tempo
Duas mentes frias dançam sem saber o próximo passo
O preço pago é muito alto
Uma dívida não quitada
Uma dúvida nunca esclarecida
Gostamos de brincar com fogo
Fogo que vem tão rápido quanto vai
Bravo! Estamos juntos e sozinhos novamente



segunda-feira, 13 de junho de 2011

Im par

Foi um dia estranho do começo ao fim. Não lhe pertencia, assim como não pertenceu a muita gente, mas com ela era diferente. Não era pura carência despertada por novelas melosas, músicas belas e filmes sobre um sentimento utópico, era o peso da decisão. Há muito tempo, uma garota decidiu que não queria. Ninguém entendia, ela não sabia a razão. Somente não queria. E decidir algo assim não é fácil, pois tudo que se vive traz a dúvida. Naquele dia ela teve a certeza, não de que estivesse certa em sua escolha, mas que escolhas quando feitas têm suas consequências. Não querer significou não ter e não ter significou precisar lidar com isso. Mas como não gostava de conformismo teve que pensar. Não poderia apenas aceitar tudo aquilo, teria que entender. Entender que existimos porque temos que existir e que não precisamos de uma metade. Nascemos únicos e se sozinhos não nos sentimos completos, jamais nos sentiremos. Então a ficha caiu. Ela não era a metade de ninguém que não fosse dela mesma, mas a vida sem amor, não tem graça e, como detestava a monotonia tanto quanto o conformismo, teve que dar o braço a torcer. O amor romântico não é eterno, exatamente por isso que é tão irresistível.

domingo, 8 de maio de 2011

Ofidiário, o grande drama

Homens e suas ideias fantasiadas de realidades inevitáveis
Imaginação usada para o comum e sem graça
Podridão almejada por mentes fracas
Olhos fechados ao encarar o espelho
Choro que acorda a piedade da plateia
Riso que esconde a vontade de ter o que não lhe pertence
Imobilizaram-me por uma fração de segundos
Segundos que não farão faltam, já que serviram de alerta
Ironia forçada se transforma em mediocridade
A mentira só faz sentindo quando existe alguém enganado


Bravo! Se não fosse tão ridícula a tentativa de ser especial, seria uma bela história dramática.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Estar só

Estava tão irritada que não conseguia mais caminhar. Não quis saber se alguém repararia em mim, deixei que minhas pernas fizessem o que bem entendessem. Assim que sentei, coloquei a cabeça entre as pernas, tampei o rosto com as mãos e comecei a chorar. Lágrimas com um gosto que há muito eu não sentia, gosto do medo. Mesmo sem ver, eu tinha consciência dos olhares em minha direção, eles eram pintados de receio e pena. Pouco me importava o que sentiam por mim, a única pessoa que me machucava com um sentimento era eu mesma. O sabor amargo da insegurança era forte, e ódio que ele despertava, insuportável. Tao incomodo que me deu impulso, levantei e corri, fugindo para algum lugar seguro, longe de mim. Em minha fuga sem sentido, achei abrigo nos braços daquela de quem os homens tem tanto medo. E com inesperada e doce voz me falou: só é corajoso aquele que conhece o medo.



domingo, 20 de março de 2011

Por mim

Por imaturidade, permiti que despedaçassem meu coração.
Por necessidade, recolhi cada pequeno pedaço e comecei a reconstruí-lo.
Por loucura, deixei que entrassem em meu peito vazio.
Por natureza, me importei.
Por burrice, não impedi que acabassem com o pouco que consegui arrumar.
Por ser humana, chorei.
Por ser quem sou, aprendi.
Por amor, segui em frente.
Sigo.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Um homem

"Sua inteligência absolutamente fora do comum de tão grande, a princípio me deixou embaraçada. Tive que me habituar ao jargão da grande inteligência. É normalmente sério, mas tem um sorriso- não, não vou dizer que o seu sorriso lhe ilumina o rosto todo. Mas, enfim, é a verdade. Ele não tem medo do lugar-comum, o tal engajamento o leva à atmosfera de sua inteligência. Esta muitas vezes usa sofismas, que são a astúcia de quem pode. Entendo-o não com a cabeça, que não alcançaria a sua, mas com minha pessoa inteira. Aliás, ele é uma pessoa inteira. Seus olhos muito negros não se desviam: ele não tem medo de olhar os homens no profundo dos olhos. Dá vontade de sorrir com ele. Se eu soubesse. Aliás, preciso me habituar a sorrir mais, senão pensam que estou com problemas e não com o rosto apenas sério ou concentrado.Voltando ao homem: quando ele diz 'até amanhã', sabe-se que o amanhã virá. Ele tem ligeiro mau gosto na escolha dos objetos de adorno que compra. Isso me dá ternura. Ele é inconsciente de que eu o vejo tanto, não tantas vezes, mas tanto. "

                                                                                                                                         Clarice Lispector

quarta-feira, 9 de março de 2011

Melhor amigo inimigo

Não mudei. Sou a mesma pessoa de antes, talvez com uma dose a mais de maturidade, mas a mesma. Mudanças requerem muito mais do que isso, apenas perdi a insanidade, a obsessão. Um breve momento para entender o que me disseram certa vez. Não é possível entregar-se sem o auto-conhecimento. Mas este trouxe consigo a realidade. As pessoas precisam de mim, não duvido disso, jamais. Eu preciso mais ainda de mim, porém. Precisava vestir-me de mim. Sentir que estava em casa debaixo de minha pele. Não foi tarefa fácil e muito menos difícil. Aconteceu sem a minha permissão, eu não estava consciente daquilo. As mais necessárias coisas nos acontecem quando não esperamos mais nada de ninguém. Como confiar na decisão de alguém que não sabe mais o que deseja ou não, pois por sua mente só passa um único e inútil pensamento? Melhor confiar em meu pior inimigo, ele na intenção de causar o mal, me arrancaria aquele que tivera meu amor. Em terrível ato falho me daria exatamente aquilo que eu tinha tamanha carência. O beijo da morte me traria de volta a vida. Sentiria afeto, então. Ao olhar meu pior inimigo. Espelho. Meu único inimigo.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Noite

Depois de passar vários dias no meio de inúmeras pessoas, confirmei aquilo que já me foi dito antes, quantidade não é qualidade. Quanto mais rostos diferentes passavam por mim maior ia se tornando a sensação de vazio, e mesmo aqueles que já me eram familiares não ajudavam a afastar esse sentimento. Só deixavam evidente aquilo que eu não queria assumir, vivi momentos com aquelas pessoas, mas esqueci de sentir. Então o que me restava era a quase apagada lembrança de um passado não muito distante. Memórias que minha mente insistia em tentar ressuscitar como ato reflexo num momento de desespero, evitando a inevitável queda no abismo. Tentando sem resultado impedir que aquela horrível e conhecida falta de ar tomasse conta do corpo. Corpo igual ao de defunto, pois os órgãos vitais pareciam que dali haviam sido arrancados de forma brutal, sem chance nenhuma de proteção. Por mais que me envolvesse em meus próprios braços na tentativa falha de me reconstruir, o buraco aumentava sem cessar. A solidão se arrastava pelo quarto escuro e sua presença me apavorava assim como o escuro faz na imaginação das crianças tomadas de inocência. Quando me vi rogando aterrorizada para que aquela noite acabasse, percebi que não era o fato de não ter alguém ao lado durante a noite que causava a dor, mas a certeza de que não teria ninguém ali no dia seguinte.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Banana

Demorei tanto para dizer que deixei de sentir.
Odeio banana, mas comi duas e sobrevivi.
Posso continuar sem esse sentimento, nem sei se ele era mesmo real.
O amor é o ponto fraco das pessoas.
Agora entendo como se sente.
Sou uma banana.
Eu sei, não faz sentido.
Agora você sabe como eu me sinto.

domingo, 23 de janeiro de 2011

A sentença

Sabe o que mais aprecio em mim mesma? A raiva. É, tenho ela adormecida e muito bem controlada durante a maior parte do tempo, mas às vezes permito que ela venha com tudo. E não me arrependo. São esses breves momentos em que a emoção fala mais alto que me fazem agir diferente. O instinto é que impulsiona os movimentos, nada de razão. Ela não me levou a lugares bons, não quando se tratava de sentimentos. Chega a ser óbvio, somente um sentimento deu um caminho certo para outro sentimento. Escolhido o melhor juíz, iniciamos o julgamento. Eu serei a advogada de acusação, com o maior prazer. Como o réu se declara? Inocente, Meritíssimo- obviamente, já que a racionalidade não existe aqui. O desgaste foi o primeiro item avaliado, cansei de ouvir desculpas ridículas e fingir que concordava. O segundo: problemas... todos temos problemas. Vá se tratar e poupe-me de você mesmo! Ah, tivemos muitos itens para avaliar, de alguns nem me recordo mais. Avaliadas as evidências, ouvidas as testemunhas, o júri chegou a um veredicto. O réu foi julgado culpado e a sentença é: Pena de morte!
Você está oficialmente morto em minha vida.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Saindo da rotina


Até quando saio totalmente da rotina acabo no mesmo lugar. Bom, não no mesmo lugar geográfico, mas com as mesmas idéias e preocupações de sempre. Que fique claro que nem toda preocupação é ruim. Sai de casa, viajei, meus olhos brilharam de entusiasmo com as novas formas e cores, sorrisos e corpos que esse estranho e encantador lugar me ofereceu. O problema- sim, essa é a melhor denominação para o que está rolando aqui- é que eu deveria estar naquela loucura que viagens me causam, mas estou com a cabeça na mesma pessoa, no mesmo amigo, no mesmo sentimento chatinho e, puta que o p..., não vai embora. Pretendo mudar essa situação pelo menos nessa semana que vou passar longe de tudo, me colocar no modo ausente em minha própria vida. Assim posso enfrentar com mais facilidade e flexibilidade o que há de vir. Aquela desvairada que me espere, vou colocar os pingos nos is assim que chegar lá. Então, boa semana para quem fica, ótimo descanso para quem saiu por ai e boa sorte para todos que, como eu, adoram transformar cada viagem em uma aventura.

Bon Voyage!!